terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mega Enquete de Aquarismo

A Mega Enquete do Aquarismo Brasileiro surgiu como uma ferramenta para pesquisar as preferências dos hobbistas brasileiros no aquarismo.
O principal objetivo da enquete é o de levantar o que o aquarista do Brasil está pensando sobre o que o mercado brasileiro oferece nos dias de hoje

Uma ótima iniciativa que certamente gerará muitos dados interessantes.
 
Para sabe mais, clique no banner:
 
 
 

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aniversário 4 anos + Uma nova espécie fóssil de Gymnogeophagus

Mais uma ano se passou, e o NATURE PLANET completa 4 anos no ar.
Seguindo seu propósito, vem conquistando cada vez mais leitores, contando com um público de mais de 74.000 leitores, envolvendo até o momento 134 países.
 

Deixo aqui o meu muito obrigado a todos leitores e amigos, por fazerem parte disso tudo, pois hoje o NATURE PLANET é o que é graças a todos vocês!!!


 Para festejar esse quarto ano, apresentamos a descrição de uma nova espécie fóssil de Gymnogeophagus:


Ciclídeos são peixes teleósteos encontrados principalmente em águas doces. Eles são uma das grandes famílias de vertebrados com mais de 1500 espécies (Eschmeyer e Fong, 2008), sendo um das mais especiosas famílias de peixes em Percoidea (peixes com espinhos nas nadadeiras da ordem Perciformes). Devido a esta especiosidade, além os recursos ecológicos e evolutivos, os ciclídeos são os mais amplamente  peixes estudados. Contrastando com sua grande variedade de formas, seu registro fóssil é bem escasso, quando comparados a essa diversidade de formas atuais. Ciclídeos fósseis são conhecidos da África, Europa Central, América do Sul e do Oriente Médio. Na América do Sul, ciclídeos são registradas para Oligoceno-Mioceno do Brasil e do Mioceno e Eoceno da Argentina . Os primeiros registros de ciclídeos nos sedimentos argentino, †Aequidens saltensis e †Acaronia longirostrum, foram encontrados  em 1961 a partir das exposições na Província de Salta, Noroeste da Argentina.
 †Gymnogeophagus eocenicus n. sp.

Restos fósseis de outros peixes também foram relatados para a Formação Lumbrera, noroeste da Argentina, foram destacados placas dentárias atribuídas a Lepidosiren paradoxa, até a descrição do peixe ciclídeo, †Proterocara argentina. Atualmente, o gênero Gymnogeophagus Miranda Ribeiro, 1918, inclui 10 espécies que ocorrem no sul das drenagens Sulamericanas. Gymnogeophagus é um gênero da subfamília Geophaginae, com ampla distribuição nas drenagens subtropicais da América do Sul, ocorrendo nas bacias do Rio Paraná, Paraguai , Uruguai e ao longo de pequenas bacias costeiras do sul do Brasil.

 A, Localização e mapa geológico; B, vista dos afloramento de depósitos lacustres de Faja Verde

Essa nova espécie de Gymnogeophagus, da Formação Lumbrera é descrita como †Gymnogeophagus eocenicus pelos ictio-paleontólogos Maria Malabarba, Luiz Malabarba e Cecília DelPapa.
Os sedimentos desta formação foram depositados em um lago durante a primeira metade do Eoceno. Juntamente com †Proteoacara argentina, o novo fóssil constitui um dos registros mais antigos de ciclídeos da América do Sul.

Ilustração do paleoambiente interpretado pelo lago Eoceno de Verde Faja


Aspectos geológicos
O registro Paleógeno na Argentina noroeste é composta de depósitos continentais, principalmente de origem lacustre. A característica destes lagos varia em sua extensão geográfica e estilo de solução salina, a água doce, e o clima é o fator principal no controle delas.
A Formação Lumbrera continental constituía um complexo Eoceno unidade litoestratigráfica dividido por uma superfície de discordância em dois membros informais: Lumbrera inferior e Lumbrera superior. O espécime
aqui descrito vem da Lumbrera superior, local conhecido como "Faja Verde" por sua origem lacustre.
A idade desta unidade é baseada em estudos magnetoestratigráfica e vertebrados do registro paleontológico.

Hipótese de relações filogenéticas de †Gymnogeophagus eocenicus, n. sp., com outros Geophaginae

Considerações biogeográficas
Os novos estudos sistemáticos, baseado principalmente em dados moleculares, produzido filogenias alternativas que desencadeou uma discussão sobre a biogeografia de ciclídeos. Eventos de dispersão e vicariância têm sido utilizados para apoiar as hipóteses biogeográficas propostas para explicar o padrão de distribuição de ciclídeos em Gondwana. Nos últimos anos, ciclídeos fósseis de espécies foram registradas
para sedimentos de água doce do Eoceno na Argentina e África. †Gymnogeophagus eocenicus e †Proterocara argentina, vieram de sedimentos lacustres de água doce ( Formação Lumbrera), que foram datados no Eoceno médio inferior.
Gymnogeophagus gymnogenys

Embora estas espécies não têm idade suficiente para confirmar definitivamente a teoria da Deriva Continental (como seria um ciclídeo no Cretáceo), eles fornecem algumas evidências que podem contribuir para essa discussão. Todas essas espécies fósseis têm um aspecto moderno e são filogeneticamente próxima dos clado Sulamericanos ou Africanos. Mesmo conhecendo-se a rápida diversificação do ciclídeos, esses registros representam exemplos de formas morfologicamente conservadas, persistindo desde o Eoceno (~ 50 Ma) até os dias de hoje. Um outro exemplo é dado pelo bagre †Corydoras revelatus Cockerell, 1925, registado para o Paleoceno superior (~ 57 Ma), Formação Maíz Gordo (subjacente a Formação Lumbrera) do norte da Argentina. Baseado sobre a presença de caracteres derivados, Reis (1998) confirmou a atribuição do fóssil ao gênero moderno Corydoras, que está em uma posição derivada na filogenia de Callichthyidae. Fósseis do Callichthyidae são escassos e † C. revelatus é o registro mais antigo da família.

Gymnogeophagus labiatus

Todas as espécies atualmente atribuídos ao gênero Gymnogeophagus tem sua distribuição restrita à parte sul da América do Sul, incluindo a bacia do Prata (Paraná, Paraguai e Uruguai) e alguns sistemas de rios costeiros do sul do Brasil e Uruguai. A única exceção é G. balzanii, também encontrado no Rio Guaporé (Bacia Amazônica), que possui uma conexão natural com a cabeceira do rio Jauru, afluente do Rio Paraguai . De acordo com dados geológicos, eventos relacionados com a elevação dos Andes centrais, que ocorrem durante o Eoceno Médio precoce Oligoceno, movendo a fronteira entre o Amazonas e norte do Paraná, com a captura das cabeceiras do sistema paleo-Amazonas-Orinoco.

Gymnogeophagus balzanii

O endemismo das espécies viventes de Gymnogeophagus na porção sul do continente Sulamericano e a ocorrência de †Gymnogeophaguses eocenicus nos sedimentos fósseis de um lago formado durante o início do Eoceno médio no noroeste da Argentina, constituindo, juntamente com †P. argentina os registros mais antigos de ciclídeos da América do Sul, suportando a hipótese de que os atuais padrões de distribuição de
linhagens de peixes neotropicais de água doce têm uma história muito mais antiga no continente.

Gymnogeophagus australis

Para saber mais:
Malabarba, M. C., L. R. Malabarba & C. del Papa. 2010. Gymnogeophagus eocenicus (Perciformes: Cichlidae), an Eocene cichlid from the Lumbrera Formation in Argentina. Journal of Vertebrate Paleontology, 30(2): 341-350.

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

domingo, 12 de setembro de 2010

Novas Espécies de Dicrossus

Dicrossus foirni sp. n. e Dicrossus warzeli sp. n. são  descritas na bacia amazônica. Ambas espécies se diferenciam de todos as outras espécies do gênero por sua composição e localização de suas três bandas laterias. Dicrossus foirni sp. n., está distribuido na região do Rio Negro, mostra um padrão de manchas laterais formado por grupo de pontos individuais. Ao contrário, D. warzeli sp. n., que é endémico do Rio Tapajós, mostra bandas finas e continuas em ambos lados da região abdominal. Ambas espécies se distinguen por apresentarem diferença na altura corporal e comprimento corporal.

 Dicrossus foirni - macho adulto e dominante.

Dicrossus foirni, do rio Preto, um afluente do alto rio Negro, era conhecido anteriormente como Dicrossus sp. "A", Dicrossus sp. "Peru", Dicrossus sp. "Rotflossen, Dicrossus sp. "Rio Negro" e Dicrossus sp. "Doppelfleck".

 Dicrossus foirni - fêmea adulta e dominante.

Etimologia: Em homenagem a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).




Dicrossus warzeli, de um pequeno igarapé afluente do Rio Tapajós, era conhecido anteriormente como Dicrossus sp. "B", Dicrossus sp. "Tapajós" e Dicrossus sp. "Tapaios".

 Dicrossus warzeli - macho adulto e dominante.


Etimologia: Em homenagem o aquarista alemão Frank Martin Warzel, um dos primeiros a importar essa espécie para a Alemanha e observar seu comportamento, inclusive reprodução. 



 Dicrossus warzeli - fêmea adulta e dominante.

Distribuição geográfica e notas ecológicas

Mapa de distribuição das espécies. Dicrossus foirni (Localidade tipo = estrela vermelho. Outros pontos de coleta = estrela branca). Dicrossus warzeli (Localidade tipo = quadrado vermelho. Outros pontos de coleta = quadrado branco).

Dicrossus foirni ocorre no médio e alto Rio Negro, coletados principalmente em tributários do Rio Negro, próximo a foz do Rio Branco. Também foi encontrado nos Rios Ararira, Demini, Marauiá, Padauiri e Preto. D. foirni foi encontrados em todos os tipos de água, principalmente muito macia e ácida, sendo em água negra, branca ou clara. No Igarapé Prosperidade, D. foirni foi coletado com os seguintes espécimes: Aequidens sp., Apistogramma gibbiceps, Apistogramma paucisquamis, Apistogramma pertensis, Crenicihla inpa, Crenicichla notophthalmus, Hoplias malabaricus e Paracheirodon axelrodi.

Localidade tipo de D. foirni, Igarapé Prosperidade.

Dicrossus warzeli é uma espécie do médio e alto Rio Tapajós. Foram coletados em igarapés próximos a São Luiz, no Igarapé Pimental e em um pequeno riacho a 56 km a sul de Barubé. D. warzeli foi encontrado exclusivamente e rio de águas claras.

Localidade tipo de Dicrossus warzeli, perto de São Luiz - PA.


Para saber mais: 

Uwe Römer, Ingo J. Hahn & Pablo M. Vergara. Description of Dicrossus foirni sp. n. and Dicrossus warzeli sp. n. (Teleostei: Perciformes: Cichlidae), two new cichlid species from the Rio Negro and the Rio Tapajós, Amazon drainage, Brazil. Vertebrate Zoology 60(2), 123-138, 2010.

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Expedição à Bacia do Rio Verde

A região de Campo Novo do Parecis

Campo Novo do Parecis localiza-se na região sudoeste de Mato Grosso, a 385 km da capital Cuiabá. Sua altitude média é de 570 metros acima do nível do mar. A cidade se encontra na Chapada dos Parecis, possuindo como mata nativa grande áreas de cerrado e nos vales dos rios mata fechada. Sua extensão territorial é de 10.796,10 Km2, sendo 2.826 km² ocupados por terras indígenas.  Seu aspecto histórico tem relações diretas com a história do Marechal Cândido Rondon. Em 1907, Cândido Rondon passou pela região em busca do Rio Juruena, atingiu o Rio Verde e seguiu para o norte em busca do Salto Utiariti, fronteando o sítio onde nasceria o futuro município. 

 Rio Verde

O território de Campo Novo do Parecis foi trabalhado em duas direções pelos serviços de linha telegráfica: uma para oeste rumando para Utiariti e Juruena e outra para leste, em busca de Capanema e Ponte de Pedra. Em fins de janeiro de 1914, o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt, passou defronte ao sítio de Campo Novo do Parecis, em viagem pela Amazônia, juntamente com Rondon. A ocupação efetiva da região deu-se na década de setenta, com abertura de fazendas e a instalação de famílias de migrantes vindos de estados sulistas. 

 Rio Verde


Bacia do Rio Juruena

O Rio Juruena é um dos grandes formadores do rio Tapajós. Possui suas nascentes na Chapada dos Parecis, e seus principais afluentes são os rios Sacre, Verde, Buriti, Juína, Mutum, Sucaruína, Cravari, Papagiao, Arinos e rio do Sangue. Um desses afluentes do rio Juruena visitado foi o Rio Verde, um rio de águas muito claras e rápidas, sendo possível enxergar profundidades de até 3 metros nitidamente. Foram amostradas duas regiões desse rio, uma na região da BR-364 e outra na região do balneário Rio Verde. 

 Cachoeiras do Rio Verde

Na região da BR-364, a área amostrada possui profundidades bem variadas entre 90 cm a 3 m. Apresenta águas transparentes e com correnteza forte, principalmente nas regiões mais profundas. Em algumas áreas mais rasas do rio, foi possível observar grandes tapetes de Eleocharis sp. e Echinodorus sp., o que concedia refúgios para diversas espécies de peixes menores. Próximos a estes refúgios, sempre se encontravam peixes carnívoros, como pequenos exemplares de Trairão (Hoplias aymara) e o Jejuno (Hoplerythrinus unitaeniatus).

 Aequidens sp.


Na região do balneário Rio Verde, cerca de 30 km a oeste da BR-364, encontramos um rio bem mais profundo e escavado em seu leito, com sua margem possuindo cerca 3 metros de profundidade praticamente em toda sua extensão, uma característica muito comum na maioria dos rios da bacia Amazônica dessa região. Nesse local, o rio possui uma cachoeira, a qual forma piscinas naturais logo abaixo, o que caracteriza o nome do local como balneário.

 Eigenmannia aff. limbata

 Durante a coleta em ambos os pontos, foram possíveis encontrar as seguintes espécies: Characiformes: Hyphessobrycon melanostichos, Hyphessobrycon vilmae, Hyphessobrycon hexastichos, Hyphessobrycon notidanos, Hemigrammus skolioplatus, Jupiaba poranga, Jupiaba yarina, Moenkhausia cosmops, Moenkhausia nigromarginata., Astyanax utiariti , Bryconops sp., Leporinus octofasciatus, Hoplias aymara, Hoplerythrinus unitaeniatus, Siluriformes:Rhamdia sp., Eigenmannia aff. limbata, Hisonotus chromodontus, Hisonotus luteofrenatus, Ancistrus parecis, Ancistrus tombador,  Perciformes: Crenicichla sp., Aequidens aff. epae, Aequidens sp, Cyprinodontiformes: Rivulus modestus.

 Hoplerythrinus unitaeniatus


Hoplias aymara

 
 Bryconops sp.


 
 Hyphessobrycon melanostichos


 Hyphessobrycon vilmae


 Moenkhausia cosmops

Jupiaba yarina


 Rhamdia sp.


Além da ictiofauna, nas margens do rio, sempre a espreita estava o Martim-pescador esperando o momento certo para capturar sua principal presa nos rios, os peixes desatentos. A Arara-canindé é outra ave muito comum de se encontrar, além de tucanos, gaviões e outros.
Esta região tão bela e de riqueza inigualável possui diversos problemas causados pelo homem, que vem aumentando cada vez mais. Um dos principais é a transformação da região de cerrado em monocultura de soja, seguido de pastagens para o gado. Quanto á água, além da poluição por esgoto doméstico e insumos agrícolas, o problemas mais atual enfrentando no momento são as PCH (pequena centrais elétricas), as quais são consideradas todas usinas hidrelétricas de pequeno porte, cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30MW, possuindo um reservatório de no máximo 3 km². No curso do Rio Juruena, estão prevista 77 PCHs para ser construídas, além do projeto de construção de uma hidrovia para escoar a soja. Além da destruição que tais PCHs podem causar ao meio ambiente, elas também mudarão o modo de vida das etnias indígenas da região, pois algumas dessas dependem exclusivamente da pesca, além da importância ritualística que o rio representa para essas etnias.


Arara canindé


Mariposa sugando sais minerais


 Borboletas sugando sais minerais



Apesar de toda a destruição que o homem já causou ou ainda pretende, a natureza tenta contornar a situação, sempre nos mostrando toda sua riqueza, para que possamos nos conscientizar e manter preservados estes locais, pois um dia tudo isso poderá desaparecer, e nesse dia será tarde demais para voltar atrás.


Matéria exibida na Revista Aqualon edição 8
 

Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Nova espécie de Amphiprion

 Uma nova espécie de Peixe-Palhaço é descrita no Oceano Pacífico Ocidental. Descrita pelos pesquisadores Gerald Allen, Joshua Drew e Douglas Fenner, a nova espécie foi chamada de Amphiprion pacificus na última edição da revista Aqua, Jornal Internacional de Ictiologia.
Amphiprion pacificus é descrito de quatro espécimes em torno de 4-5 cm que foram capturados na Ilha Wallis e Tonga, no Pacífico Ocidental. Entretanto, fotógafos mergulhadores relatam que essa mesma espécies é encontrada  em recifes de corais  de Fiji e Samoa também no Pacífico.



A nova espécie é praticamente idêntica a Amphiprion akallopisos, presente no Oceano Índico, dividindo duas características em comum, o marrom levemente rosa que converte para laranja ou amarelo na parte de cima da cabeça, com uma listra branca no dorso que vai até a nadadeira caudal. Para comprovar a validade da nova espécie, testes genéticos revelaram que a espécie é mais próxima de Amphiprion sandaracinos, encontrado no oeste da Austrália e na região Indo-Malaia. 
As diferenças físicas entre A. akallopisos e A. pacificus se resumem na coloração  e no número de raios moles na nadadeira dorsal e anal de cada espécie.



Para saber mais:
Allen GR, Drew J and D Fenner (2010) - Amphiprion pacificus, a new species of anemonefish (Pomacentridae) from Fiji, Tonga, Samoa, and Wallis Island, pp. 129-138. Aqua, International Journal of Ichthyology, Volume 16, Issue 3 – 15 July 2010.

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

terça-feira, 13 de julho de 2010

Duas novas espécies de Moenkhausia

Duas novas espécies do gênero Moenkhausia, uma da bacia do rio Tapajós e outra da bacia do rio Xingu, são descritas como aparentemente endêmicas da Serra do Cachimbo. Ambas foram descritas pelos ictiólogos Leandro Sousa, André Netto-Ferreira e José Birindelli; como Moenkhauisa Chlrophthalma e Moenkhausia plumbea.
Ambas espécies, juntamente com Moenkhausia petymbuaba, compartilham um padrão de colorido exclusivo de grandes manchas escuras conspícuas na base das escamas do corpo. 

 Moenkhausia chlorophthalma

Moenkhausia chlorophthalma, do rio Treze de Maio, um afluente do rio Curuá (bacia do rio Xingu), é facilmente reconhecida pela presença de uma área preta bem delimitada na região anterior da nadadeira adiposa, possuir olhos verdes em vida. Difere dos seus congêneres pelas seguintes características: grandes manchas escuras na região anterior até a região central do corpo, que dão a forma de sete séries logitudinais, 25-28 escamas na linha lateral, quatro escamas entre a linha lateral e a origem da nadadeira dorsal, sete raios ramificados na nadadeira pélvica e 7-12 escamas cobrindo a base da nadadeira anal.

Etimologia: Do grego Chloros = verde e Ophthalmos = olho

Moenkhausia plumbea

Moenkhausia plumbea ocorre nas cabeceiras dos afluentes do rio Braço Norte, bacia do rio Tapajós, e pode ser diagnosticada pela presença de uma faixa longitudinal escura no olho e seis raios ramificados na nadadeira pélvica (vs. sete em Moenkhausia chlorophthalma). Difere dos seus congêneres pelas seguintes características: listra longitudinal escura ao longo do olho, 33-36 escamas na linha lateral, cinco escamas entre a linha lateral e a nadadeira dorsal, seis raios ramificados na nadadeira pélvica, e 4-9 escamas a cobrindo a base da nadadeira anal.

Etimologia: Do latim plumbum, em referência a linha lateral de coloração chumbo



Maiores informações:
Sousa, LM, AL Netto-Ferreira and JLO Birindelli (2010) Two new species of Moenkhausia Eigenmann (Characiformes: Characidae) from Serra do Cachimbo, Pará, Northern Brazil. Neotropical Ichthyology 8, pp. 255–264.

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

sábado, 3 de julho de 2010

Ciência

Cientistas reencontram espécie de peixe subterrâneo descrito há 40 anos

A redescoberta de um peixe subterrâneo (Stygichthys typhlops) por cientistas brasileiros em abril deste ano, na região de Jaíba, norte de Minas Gerais, finalmente permitirá que seja feita uma descrição completa e detalhada do animal. Há 40 anos, após receberem um exemplar trazido à superfície durante a abertura de um poço artesiano, dois cientistas norte-americanos o descreveram, com base nesse único indivíduo, e concluíram tratar-se de um lambari.

Stygichthys typhlops

Porém, pesquisadores do Instituto de Biociências e do Museu de Zoologia, ambos da USP, que conseguiram capturar 25 exemplares do peixe, garantem que, apesar de terem escamas e da semelhança superficial, os animais não têm qualquer parentesco mais próximo com os lambaris. "Com essa amostra, será finalmente possível ter uma boa idéia de quem é e como vive essa espécie. Ainda estamos estudando os diversos aspectos da morfologia e do comportamento para termos uma melhor definição", explica a professora Eleonora Trajano, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP.

Os exemplares foram localizados em poços artesianos da região, onde o peixe é conhecido popularmente como "piabinha cega". Eleonora conta que, devido a algumas dificuldades, não foram feitas expedições anteriores ao local. Porém, em abril último, os pesquisadores conseguiram encontrar os peixes em duas cisternas.. "Esses peixes possuem características de espécies troglóbias (exclusivamente subterrâneas), como a ausência de olhos e de pigmentação, além de outras modificações relacionadas à vida no meio subterrâneo, permanentemente escuro e com escassez de alimento", explica a pesquisadora. Com quase 20 espécies conhecidas, o Brasil destaca-se mundialmente pela riqueza em peixes troglóbios. "A Stygichthys typhlops é uma das mais modificadas e espetaculares entre essas espécies", diz Eleonora.

Canibal
Um diferencial observado no comportamento do Stygichthys typhlops é que ele possui o hábito do canibalismo (ingestão de indivíduos da mesma espécie). "Isto é uma coisa rara em peixes, só registrada anteriormente em quatro das mais de 100 espécies de peixes troglóbios de todo o mundo", cita a pesquisadora. Segundo ela, o peixe atinge 5 centímetros (cm) de comprimento. "O que foi enviado aos EUA tinha apenas 2,5 cm. Um filhote ainda", lembra.

Stygichthys typhlops

Ainda este ano, os pesquisadores deverão realizar estudos mais aprofundados sobre Stygichthys typhlops para saber qual seu parente mais próximo entre as espécies de peixes. Em paralelo com a investigação das relações de parentesco desta espécie com os peixes que vivem na superfície, deverão ser estudados o comportamento e aspectos da ecologia.

Os estudos sobre Stygichthys typhlops, segundo a pesquisadora, poderão implicar na revisão das relações de parentesco entre grupos já estudados. "O que podemos antecipar é que o animal pertence ao grande grupo brasileiro de peixes de escamas, que inclui, além de lambaris e piabas, as traíras, dourados, piaus, curimatás, pacus, piranhas etc., mas não se encaixa em nenhuma das famílias conhecidas, daí o grande interesse suscitado no meio científico por sua redescoberta ".

Quanto ao habitat, os pesquisadores acreditam que o peixe chegou ao subterrâneo após invadir pequenas fendas existentes no calcário localizado abaixo do leito e das margens de um rio local. A pesquisadora alerta que, devido à exigência de drenagem de grandes volumes de água para irrigação que acontece atualmente na região (o Projeto Jaíba de irrigação é um dos maiores da América do Sul), o pequeno peixe pode já estar com sua sobrevivência ameaçada pelo rebaixamento do nível das águas subterrâneas, restringindo seu habitat de forma acelerada.

A expedição, que foi organizada pela professora Eleonora e pelo doutorando Cristiano de Oliveira, contou também com a participação do professor Mário César Cardoso de Pinna e Osvaldo Oyakawa, do Museu de Zoologia, e de Maria Elina Bichuette (pós-doutoranda pelo IBUSP) e Flávio Dias Passos.
 

 Coleta de exemplares

O Stygichthys typhlops foi descrito pela primeira vez por dois cientistas norte-americanos que pensaram tratar-se de um lambari. Contudo, pesquisadores da USP redescobriram o animal e já têm uma certeza: não é um lambari  

Fonte:

quinta-feira, 1 de julho de 2010

V Encontro de Aquaristas de Londrina e Região

No próximo dia 24 de julho será realizado o V Encontro de Aquaristas de Londrina e Região, que contará com visita à estufa com os aquários e plantas de Rony Suzuki, palestras sobre reprodução de peixes ornamentais com Marcelo Assano, palestra de aquapaisagismo com a Aquabase e a premiação e resultados do CPA 2010, além de coffee -break e sorteio de vários brindes 

 
As reservas dos não residentes em Londrina devem ser feitas através do seguinte mail: aquasuzuki@gmail.com
Valor: R$ 15,00

Maiores informações: Aqualon

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O gênero Mikrogeophagus

Um gênero que até algumas décadas atrás era muito confuso. A princípio, a espécie tipo do gênero, Mikrogeophagus ramirezi, foi descrita por Myers & Harry em 1948 como Apistogramma ramirezi. O mesmo por diferir do gênero Apistogramma por caracteres ecológicos e morfológicos, sempre causou discussão onde seria melhor alocado, em Apistogramma, Microgeophagus ou Papiliochromis

 Mikrogeophagus ramirezi var. ouro

A situação foi discutida por Robins & Bailey em 1982, chegando a conclusão que Mikrogeophagus era o nome válido para o gênero, por ter sido usado por Axelrod em 1971 no segundo livro sobre Peixes de Aquário e Criação, como a espécie tipo por monotipia de Apistogramma ramirezi. No mesmo livro, Axelrod considera Pseudoapistogramma  Axelrod 1971 como "nomen nudem", assim como Pseudogeophagus Hoedeman 1974. Kullander em 1977 ao revisar as espécies Apistogramma ramireziCrenicara altispinosa, cria um novo gênero baseado em caracteres diagnósticos, o qual é provavelmente relacionado com os gêneros Geophagus e Biotodoma,  gerando a nova combinação Papiliochromis ramirezi e Papiliochromis altispinosus respectivamente. 

 Mikrogeophagus ramirezi var. German Blue

 Mas Mikrogeophagus foi usado pela primeira vez por Frey em 1957,  em seu livro "Das Aquariun von A by Z" indicando a espécie conhecida até então como Apistogramma ramirezi como Mikrogeophagus ramirezi, sendo esta a espécie tipo por monotipia. 
A pergunta era então se esse nome seria válido. Alguns consideraram uma proposta provisória e conseqüentemente não admissível perante as regras de nomenclatura zoológica e outros consideraram sem sombra de dúvidas um nome válido que designava mesmo uma espécie incluída. Este provavelmente foi um daqueles problemas taxonômicos que não podem ser estabelecidos exceto com as regras da ICZN.
Após essa grande confusão, o nome válido do gênero tornou-se Mikrogeophagus, sendo a espécie tipo, Mikrogeophagus ramirezi. Atualmente são duas espécies válidas para o gênero.

 Mikrogeophagus altispinosus

Etimologia: O nome deriva do grego, onde Mikros = pequeno; geo = terra e phagus = comedor, que significa pequeno comedor de terra.

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Mikrogeophagus ramirezi (Myers & Harry)

Microgeophagus ramirezi (Myers & Harry, 1948)
Papiliochromis ramirezi (Myers & Harry, 1948) ;
Apistogramma ramirezi Myers & Harry,1948;
Mikrogeophagus ramirezi Frey, 1959;
Microgeophagus ramirezi Scheel, 1971;
Geophagus Ramirezi Frey, 1971 .

Mikrogeophagus ramirezi forma selvagem

A espécie foi descrita por George Myers e Harry em 1948 na extinta Aquarium Magazine, onde Myers era o editor.
É encontrada na bacia do Rio Orinoco, nas planícies da Venezuela  (río Guarico, Guariquito, Palenque, Amapa)  e nas planícies da Colômbia (Rio Meta). Em 1946 Axelrod trouxe os primeiros exemplares para os Estados Unidos. Posteriormente, se iniciou a exportação de exemplares do Rio Apure, na Venezuela no ano de 1947, e em 1948 começou a exportação para a Europa.

Morfologia: Corpo mais largo lateralmente, com dorso e ventre arredondados. Nadadeira dorsal mais longa no início e no final desta, com os três primeiros raios de coloração negra.  Nos exemplares machos o final das nadadeiras são mais compridas. Faixa negra que passa através dos olhos. Corpo amarelo com  pontos azuis irisdescente por todo o corpo. Mácula ovalada negra no meio do corpo que se extende verticalmente na base da nadadeira anal. 

Diferenças Sexuais: Os machos são maiores que as fêmeas (7 cm vs. 5 cm).  Seus raios da nadadeira dorsal são maiores do que da fêmeas. A fêmea apresenta ventre mais ovalado com coloração rosada.

Etimologia: O nome Ramirezi é em homenagem a coletor da espécie Manoel Vicente Ramirez.

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Mikrogeophagus altispinosus (Haseman, 1911)

Crenicara altispinosa (Haseman, 1911) 
Microgeophagus altispinosus  (Haseman, 1911)
Papiliochromis altispinosus (Haseman, 1911)

Mikrogeophagus altispinosus

A espécie foi descrita originalmete por Haseman em 1911, sendo sua localidade tipo o Rio Mamoré em San Joaquin, Província de Beni, Bolívia. Em seu habitat natural a espécie ocorre em córregos e em associações de água doce permanentes.
Ocorre nas drenagens do rio Mamoré na Bolívia e Guaporé no Brasil. O morfótipo encontrado na bacia do Rio Guaporé é particularmente diferente da forma encontrada na localidade tipo, sendo conhecida como Mikrogeophagus sp. " Zweifleck/Two-patch".
A espécie foi exportada pela primeira vez para a Alemanha no ano de 1980, e em seguida para os EUA, tornando-se muito popular no hobby a partir dessa data.

Mikrogeophagus altispinosus (Mikrogeophagus sp. " Zweifleck/Two-patch")

Dimorfismo sexual: Os machos são maiores do que fêmeas e mais coloridos (5 cm vs. 3 cm). As fêmeas são mais amarelas no peito.

Etimología: do Latim alt = alto e spino = espinho, que significa nadadeira de espinhos altos.


Referências:
Robins, C. R. and R. M. Bailey, 1982, "The status on the generic names Microgeophagus, Pseudogeophagus, and Papiliochromis (Pisces: Cichlidae)", "Copeia" 1982 (1): pp. 208- 210. 
Kullander, S.O. 1977. Papiliochromis gen.n., a new genus of South American cichlid fish. Zool. Scr. 6: 253-254.
Californian Academy Science 

Fotos:
Benny NG
Ck Yeo
Rodrigo Machini

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©

domingo, 13 de junho de 2010

A espécie Glossolepis pseudoincisus

Glossolepis pseudoincisus

Descrita por Allen e Cruz, 1980
Localidade-Tipo: Rio Tami, Papua Nova Guiné


Sumário da espécie
De outubro 1954 até maio 1955, uma expedição foi feita na Nova Guiné holandesa (Papua ocidental) pelo "Rijksmuseum van Natuurlijke Historie" em Leiden. O ictiólogo do museu, Marinus Boeseman, era o líder da expedição. Sua tarefa era fornecer um conhecimento completo da fauna de peixes, examinando todos os rios e lagos possíveis em Papua ocidental. Esta tarefa foi executada em um curto período e muitas localidades foram visitadas, tendo por resultado uma coleção rica para o museu de Leiden. Esta coleção incluiu muitos peixes Arco-Íris (Rainbowfishes), mas um estudo completo destes materiais e descrições de todas as espécies novas nunca foi feito por Boeseman.
Como parte da revisão da família de peixes Arco-Íris (Rainbowfishes), Gerald Allen estudou a coleção holandesa de 1954 a 1955 e também no fim dos anos setenta. Ele descobriu nada menos que 4 espécies novas de peixes Arco-Íris (Rainbowfishes), que descreveu em 1980 juntamente com Norbert Cross. Estas espécies eram: Melanotaenia boesemani, Melanotaenia ajamaruensis, Melanotaenia japenensis e Glossolepis pseudoincisus . Glossolepis pseudoincisus foi nomeado de Pseudoincisus devido suas referências, aparência similar e proximidade geográfica a Glossolepis incisus.




Distribuição & habitat
Glossolepis pseudoincisus  foi encontrado pela expedição de Boeseman em novembro de 1954 em um lago do rio de Tami, aproximadamente 30 quilômetros a leste do lago Sentani. Allen e Bleher foram procurar esta espécie em 1982, mas não puderam encontrá-la. 



Observações
Em janeiro 2001, Heiko Bleher coletou uma nova espécie de Glossolepis do lago Ifaten, um lago de cratera isolado, situado nas montanhas perto do lago Sentani em Papua ocidental. O lago Ifaten possui aproximadamente 300 metros acima do nível do mar. O lago tem um diâmetro de 250 metros e temperatura de água 28°C, pH 9.0.
Os peixes coletados eram muito similares a Glossolepis incisus, com diferenças em suas escamas quando comparados (são menores e alinhadas diferentemente). A espécie nova não é tão grande como Glossolepis incisus, sua forma do corpo é mais compacta, a coloração vermelha é mais intensa e a marcação e forma da nadadeira são mais pronunciadas.


Os peixes Arco-Íris do lago Ifaten possuem uma cabeça muito típica do gênero Glossolepis. As marcas na placa brânquias são muito proeminentes quando o peixes atingem um ano de vida.
Um teste padrão original das linhas vermelhas que - assim aparecem - estão derivando do intercruzamento. As fêmeas do lago Ifaten possuem colorido diferente, sendo amarela com listras fortes em zigzag horizontal no corpo todo. Igualmente permanecem pequenas, até 6 cm de comprimento. É uma possibilidade que esta espécie possa ser Glossolepis pseudoincisus.


Referências:

Adaptado e traduzido por Ricardo Britzke © Copyright 2010 ©